terça-feira, 12 de maio de 2009

Luizão Maia – Um baixista brasileiro!

Por Karla Maragno


"O momento que a gente está no palco não existe dinheiro que pague”
Luizão Maia


Luizão Maia! Nome que ecoa como força e predestinação a música. Nome que traduz alguém com as qualidades daqueles que tem em si uma arte audaciosa e sem lei! Alguém que faz diferença, muda a história e imprime a imagem da felicidade que se tem em expressar-se através da música!

"O dono do swing do país?! " Era a pergunta com ar de “deboche carinhoso” que Elis Regina usava se referindo a Luizão Maia durante seus shows. Ela sabia a resposta, e muita gente pelo mundo afora também. Tanto que, em alguns países, existem universidades de música, que adotaram em seus currículos o legado histórico e as gravações de Luizão Maia como referências do contrabaixo no samba. Tal fato demonstra que a relevância de sua música foi antes descoberta fora das fronteiras do país do samba. Porém, a Baixo Brasil, ligadíssima na música brasileira, em reverência a importância de um dos mais notáveis baixistas de nossa história, só poderia fazer sua edição de estréia e histórica com ele!!!


A criação de uma marca
Luizão Maia revelou-se no cenário da música brasileira, libertando o baixo para trilhar outros caminhos até então não atribuídos ao instrumento. A linguagem antes de Luizão era completamente diferente. A participação do contrabaixo na música brasileira era restrita ao baixo acústico ou ao violão 7 cordas. As linhas do acústico eram extremamente simples, apenas repetindo a marcação do tempo com as fundamentais do acorde. Luizão adotou de forma pioneira o baixo elétrico e, com total domínio do samba, criou a forma de se tocá-lo usada até hoje: simular o efeito sonoro do surdo, com diferenças de intensidade, variedades de notas (não existentes no surdo), e acrescentando artifícios rítmicos. Um destes recursos é colocar ghost notes nas levadas, a nota que interfere sem ser tocada, fazendo a percussão. Luizão descobriu desta forma o tempero, o swing.
Luizão também valorizava a pegada, a técnica e o trabalho com a mão, acima de efeitos de amplificadores. Possuía um timbre característico e uma técnica de se tocar pizzicato com o uso das unhas.
Mesmo sendo o samba sua marca registrada, Luizão tocava outros ritmos como jazz, e chegou a acompanhar Lee Ritenour, George Benson, Herbie Hancock, Wayne Shorter , Sadao Watanabe e Toots Thielemans. Tocava também baião, bolero, valsa, blues, xote, sambaião, música latina e o que mais precisasse.

O ponto de partida
No dia 03/04/1949, na cidade do Rio de Janeiro, nasce Luiz Oliveira da Costa Maia. Mais precisamente em Vila Isabel, como ele fazia questão de destacar com orgulho, e citar Noel Rosa, como um dos símbolos do bairro que dizia: “Vila Isabel dá samba”.
Luizão começou a “dar samba” enquanto observava seus irmãos tocarem e ensaiarem em sua casa. Quando paravam, e deixavam o violão de lado, ele o pegava e repetia alguns acordes feitos por eles. Desta forma aprendeu a tocar e descobriu com o violão seu talento natural para a música. Aos quinze anos, substituiu o violão pelo contrabaixo acústico. Com ele gravou alguns discos de música brasileira, mas achava que o instrumento não era “escutado” como ele desejava que fosse, percebeu que com o elétrico era mais “ouvido”. Na mesma época começou a tocar jazz com o saxofonista Victor Assis Brasil, e em seguida formou o respeitado grupo Formula 7. Por ele passaram o guitarrista Hélio Delmiro, Marcio Montarroyos no trompete, Cláudio Caribé na bateria, João Luis na outra guitarra e Hélio Celso no piano.

Gravando... e se vira...

Os sons divinos de seu baixo são consideravelmente fáceis de serem encontrados e, provavelmente, em algum momento da vida, quem está lendo este texto, já teve esta experiência. Luizão foi responsável pelo baixo nos discos dos maiores artistas brasileiros das décadas de 70 e 80. Foram mais de setecentas músicas em mais de uma centena de discos. Vamos descobrindo sua assinatura em clássicos da MPB que marcaram a história de vários movimentos importantes no Brasil. Expressões, frases, refrões que se perpetuaram nas vozes estrelares deste país. E quem estava ali no baixo era ele: Luizão! O que podemos perceber é que junto com Luizão está a história dos anos esplendorosos da MPB. Aquela que ninguém esquece e é tida como inigualável. Ouçam clássicos que fizeram a historia e descubram Luizão! Ouçam Elis Regina, Chico Buarque, Gal Costa, Sivuca, Leni Andrade, Maria Betânia, Tim Maia (veja discografia completa no site:
www.baixista.com) . Ouçam, com um bom fone de ouvido para escutar bem o baixo! Independente de seu estilo e gosto musical, pois cultura sempre faz bem e informação não ocupa espaço. Ouçam! Pois além de ouvir Luizão, vão degustar boa música. Nosso orgulho. O melhor produto de exportação. A música brasileira!
Com Luizão percebemos como é importante o trabalho de acompanhamento do baixista! Abro aqui um parêntese pra falar do momento presente, em que a valorização ao trabalho solo do baixista é exagerada. Parece obrigatório o músico ter seu trabalho solo para provar que é bom. Há um endeusamento aos que tocam mais notas do que interpretam, e uma tendência à reduzida importância àqueles que acompanham. Nada contra trabalhos solos, muito pelo contrário. Só estou propondo um olhar inverso: Como seria a MPB sem Luizão e seus 30 anos de swing e tempero oferecidos a ela?
E estejam atentos a um detalhe: Luizão Maia gravava em uma época em que o arranjador não levava ao estúdio de gravação a música escrita, mas apenas dava sua sugestão de harmonia e sua idéia do que tinha em mente. A partir destas informações, deixava por conta dos músicos a criação de todo o ambiente do arranjo. Ali na hora. E Luizão gravou desta forma uma enormidade de discos com arranjos de baixo absurdamente perfeitos, lindíssimos, bons de ouvir, que davam o clima e faziam diferença na música.
Luizão não tinha estudo formal em música, mas consciente da necessidade de ter conhecimento em leitura, estudava constantemente, se aperfeiçoando e pesquisando. Ele dizia que em orquestras os músicos recebiam o que tocar com um tempo para estudar. Já em estúdio os músicos saiam de casa, e quando chegavam lá, que descobririam o que tocar e... “ tinham que resolver na hora”.


Superação
No início da década de 90, teve seu lado direito do corpo paralisado em conseqüência de um derrame. O que para muitos músicos poderia ser algo que definitivamente e irremediavelmente acabasse com uma carreira de sucesso, para Luizão foi uma questão de adaptação e superação. Com determinação, desenvolveu uma nova forma de tocar, apenas com a mão esquerda batendo os dedos nas notas, algo como a técnica de tapping. Assim continuou no Japão atuando, paralelamente, em shows de música brasileira e em 1998, participou do show "Tributo a Elis Regina", ao lado de Helio Delmiro e Nana Caymmi, no Town Hall de New York (EUA), tocando o baixo apenas com sua mão esquerda e conquistando a admiração do público e da crítica. Um de seus últimos trabalhos foi a Banda Banzai, que em seu repertório tocava suas músicas autorais.
O Legado
No dia 28 de janeiro de 2005, aos 55 anos, após um terceiro derrame cerebral Luizão se foi, deixando além de tudo o que foi citado como herança de valor incalculável, cerca de 50 composições próprias, entre elas “Chorinho com Xis’, gravada pelo dinamarquês Niels Pedersen. Esta gravação deixou Luizão muito orgulhoso e feliz. Niels era um de seus contrabaixistas favoritos e faleceu três meses após Luizão com a mesma idade. Também deixou um disco inédito com 10 músicas, gravado por ele mesmo. Esse trabalho seu filho Zé Luiz Maia planeja lançar em 2009. Zé Luiz que também é baixista está ainda nos presenteando com o lançamento do primeiro disco de composições de Luizão Maia – “Tal Pai”. Aos poucos pretende registrar toda a obra de Luizão.
Esta é parte da história de um brasileiro magnífico! E para contar esta história, agradeço o carinho que Zé Luiz Maia teve ao me revelar tanto de seu pai: presença marcante em sua vida, e fonte de sua inspiração para seguir a mesma carreira. Contar que aos 9 anos de idade seguia Luizão a shows e estúdios de gravação, que um dia ganhou um baixo dele junto com a frase: “toca aí”! Contar que encontra músicos que gostam de lhe falar que o pegaram no colo. Falar dos últimos anos de Luizão no Japão, país onde vivia. O assunto é inesgotável e emocionante.
Por isso para relatar esta história mergulhei no “Mundo Luizão”, ouvindo dias seguidos a riqueza rítmica e melódica de seu groove em centenas de músicas e experimentando em cada linha, uma viagem, uma descoberta, um prazer, um “uaaauu” ou um “o que que é isso!?” Troquei minha admiração por paixão e de quebra, ainda descobri mais o Brasil. O Brasil de Luizão, que foi, é, e sempre será um mestre. Um mestre do som. Um brasileiro: Luizão Maia.

7 comentários:

  1. Caramba Kaká... tava pesquisando mais sobre a vida do Luizão.. quando no meio do texto me toco que você é a dona do blog. haha "mundo" pequeno!! Muito legal o blog... Parabéns do amigo do Recife.

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  2. Marceloooo... quanto tempo amigooo...
    que bom que curtiu o blog... tá aberto pra o que vc precisar...
    bjão
    Kaká

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  3. perfeito... poderia fazer depois do seu sobrinho arthur maia

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  4. Aqui é Nelsinho Rios de Los Angeles.Muito bom o blog, conheço muito o Arthur Maia e sempre fui fã do Luizão, meus parabéns. www.myspace.com/nelsonrios

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  5. Que bom que pessoas de sensibilidade expressem na net valores como o de Luizão Maia.
    Isso é maravilhoso! Não parem!
    MAESTRO PEDRO ROMANO (Angela Maria)
    MIAMI-USA

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  6. Sou cunhado dele acho muito importante relembrarmos o maior baxista de todos os tempos. e por isso nunca vai sair da nossas memorias. Um abraço, tuca .

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  7. oi quais sao as musicas dele?

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