por Karla Maragno
Encontramos sua casa numa vila bem tranquila em São Paulo. O primeiro carro que transportou a banda Sepultura - uma variante marrom estava estacionada a porta com um adesivo super antigo do grupo. Com os chinelos do Sepultura nos pés, Paulo Xisto recebe a Baixo Brasil para uma entrevista cheia de histórias próprias e da banda que carrega a música brasileira através do metal pesado, com quase 25 anos de existência, persistência, força e sucesso
O que é o Sepultura?
Uma banda, um conceito, um estilo de vida!
E como você entrou na banda?
Entrei porque eu tinha um baixo Giannini. Não sabia tocar, mas tinha um baixo
Mas por que você tinha um baixo se não sabia tocar?
É porque na escola um pessoal se juntou pra fazer uma banda e não tinha baixista. Eu nem sabia o que era um baixo, mas queria entrar na banda e infernizei a vida dos meus pais e tios pra comprarem um baixo pra mim. Eu o tenho até hoj
e. Comprei na Mesbla, financiado em trezentos milhões de vezes. Mas depois de duas semanas de banda, eles me mandaram embora porque eu não sabia tocar.
Muito de leve. Sempre fui preguiçoso. Mas depois disso eu conhecia o pessoal que estava começando o Sepultura e eles precisavam de um baixista. Quando souberam que eu tinha um baixo me chamaram pra banda. Fui aprendendo olhando as bolinhas do braço do instrumento. Fui aprendendo na raça mesmo.
Você olhava o guitarrista e ia catando as bolinhas?
É. O cara fazia um acorde e mandava eu olhar o indicador
que era a tônica. Ia pegando os toques com os guitarristas e fui aprendendo, olhando. Mas até hoje não sei nada de teoria. Sou grosso mesmo. Hoje em dia estudo mais, porque o Jean (baterista) me força a estudar. To tentando aprender a me disciplinar
Quem compõe no Sepultura?
Bem, no caso deste novo trabalho o A-lex inspirado no livro Laranja Mecânica, a maioria das composições são começadas pelo Andréas e Jean, mas fazemos tudo junto. As vezes a gente tem uma idéia em casa, e concretizamos em nossos ensaios.
Você constrói suas linhas pelo ouvido, pela sonoridade?
Voltando para o começo, como era a história de bandas de rock em Belo Horizonte? Havia um circuito alternativo?
O nosso circuito na época era combinado com os pais. Estudávamos durante a semana e nos finais de semana passávamos a tarde inteira ensaiando. Trinta pessoas. Várias bandas, revezavam os instrumentos e amplificadores.
“muitos gringos tem mesmo uma visão restrita do Brasil. Quando o Rush veio ao Brasil não sabia o que esperar. Eu estive com eles e disse: podem se preparar porque terão o maior público de sua vida. Vocês são esperados há 30 anos. E foi realmente o maior público da história deles!”
E como foi a entrada do Sepultura no mercado? Como vocês gravaram o primeiro disco?
Tinha uma loja de disco em BH que o gerente e o dono tinham a banda mais famosa da época: Overdose. Eles já faziam muitos shows e tinham vontade de transformar a loja em um selo. Nessa, eles apostaram no Sepultura e gravamos o disco com eles. A gente nem sabia o que era uma gravação. Eles não estavam familiarizados com este estilo de música que a gente fazia e nem a gente com estúdio. O cara ligou meu baixo direto na mesa. Não tinha nem amplificador. Imagine o que era tirar um som assim. Era muito difícil. A gente sofria.
Quando eu cheguei com o primeiro disco em casa eu nem acreditei. Foi o Bolão(dono de um boteco de BH famoso pela macarronada) o primeiro a comprar nosso disco. Ele disse assim: “dá uma coisa dessa aí pra eu ajudar”... e comemoramos lá no Bolão comendo o “pão moiado”
Como vocês caíram no mundo, na estrada? Vocês foram atrás?
É. As vezes o telefone tocava, o pessoal chamava, a gente ia. A gente também mandava carta, usava os fanzines, mandava disco pra todo mundo. Assim começamos a viajar. No primeiro ano fizemos uns 7 shows... hoje em dia se deixar o Sepultura faz 7 shows em menos de uma semana, quando estamos fora em turnê
E como era visto este tipo de som em BH? Bem no bairro que era reduto do clube da esquina?
Eles falavam que nós vomitamos no clube da esquina. A gente morava perto deles. Tem até uma história que a irmã do Lô Borges entrou uma vez no estúdio gritando que a gente estava desafinado, pra pelo menos afinar os instrumentos. Nascemos tortos.
Mas vocês sempre escutavam esse som pesado?
Sempre rock pesado. O pessoal acha que Minas Gerais é aquela coisa de queijinho, cachacinha, MPB, mas não é só isso não. Lá tem uma comunidade muito forte de rock.
Vocês desde o inicio cantavam em inglês?
Sempre cantamos em inglês. Teve uma época que até tentamos cantar em português, mas não soava bem. A gente nem sabia falar inglês direito, pegava o dicionário e traduzia ao pé da letra.
O sucesso alcançado pelo Sepultura lá fora não teria acontecido se vocês não cantassem em inglês?
Acho que a língua realmente ajudou
Vocês então representam um Brasil que não canta samba e não fala português? O pessoal assimila isso como Brasil?
Sim, no começo era estranho, mas essa visão foi mudando. E isso acaba sendo uma coisa legal. Hoje em dia o pessoal conhece o público potencial de rock do Brasil, que já está no circuito mundial do rock. Tem muito gringo vindo pra cá e a gente nem fica sabendo.
Vocês costumam a tocar onde lá fora? Em casa de shows?
Depende. A gente toca em todo lugar. Já tocamos pra cinqüenta pessoas e pra cem mil.
Às vezes a gente toca numa cidadezinha no meio do nada e pensamos; não é possível, não vai aparecer ninguém, e de repente o pessoal aparece.
Quem não gostou foi porque não entendeu o conceito do comercial. Qualquer brechinha que a gente dá o pessoal vai falar mal mesmo. Tem gente que gosta e tem gente que não gosta. Sempre vai ser assim. E foi legal porque muita gente pensou que a banda tinha acabado. Muita gente pergunta, “ué o Sepultura não acabou não é?” Com a propaganda puderam ver que ainda existimos
E na mesma semana que o comercial estreou vocês foram no “Altas Horas” , fortalecendo a evidencia do grupo, não é?
É. Mas olha só, isso de undergroud, de separar tudo, é coisa de brasileiro. Lá fora não tem esse preconceito. Já tocamos em festivais na mesma noite que Alanis Morrisset, Red Hot Chili Peppers e Peter Gabriel. Ah! Já tocamos no Estádio Olímpico de Monique num show que o Sting era a atração principal, tinha o Sepultura e uma banda country. Isso aqui no Brasil ainda não acontece. Quando colocaram por exemplo no Rock Rio o Lobão depois da gente, o cara sofreu...
Você acha legal esta questão de juntar as diferenças?
Muito. Nós gravamos uma música do Zé Ramalho para a trilha do filme Lisbela e o Prisioneiro e ficou muito legal. É só fazer o negócio bonitinho, bacaninha pra não queimar nem um lado e nem o outro. É só respeitar os dois lados e se manter no próprio conceito.
Vocês estão lançando agora um novo disco: A-lex. O que significa?
A-lex é o nome do personagem principal do livro/ filme Laranja Mecânica, no qual o disco é inspirado. A-lex em russo significa sem lei.
Alguma razão pela escolha do Laranja Mecânica?
Foi uma inspiração. O disco anterior foi inspirado na Divina Comédia de Dante. É como fazer uma trilha sonora. Neste agora a gente tentou focar mais no livro do que no filme. O livro é sempre mais completo.
Qual a novidade, qual a sonoridade?
A sonoridade está bem sepultura, bem crua mesmo. Nós chegamos a gravar 21 músicas, mas entraram 18. E são divididas nas 4 fases do livro. Tem a parte de quando ele é moleque e violento, tem a parte de quando ele é preso, o tratamento, a tortura psicológica, os problemas da readaptação a sociedade, e ele mais velho. Fizemos este ciclo. Então quando é mais violento é mais porrada. E por aí vai. Dá pra sentir.
Fizeram em quanto tempo?
Nós fizemos este disco em 4 meses. Fluiu perfeito. E nosso tempo de estúdio é mais ou menos padrão: 4 semanas de gravação e 2 semanas de mixagem.
E a turnê de lançamento começa por onde?
A maioria das vezes começamos pela Europa, que é nosso mercado mais forte, ficamos um mês e meio, voltamos pro Brasil, vamos para os EUA, voltamos pro Brasil, Europa, e assim vai.
Eu tenho a revista 77, a loja virtual do Sepultura, e o futebol de final de ano. O jogo das estrelas. Mas tenho que sempre que saber primeiro o que está acontecendo com a banda. A banda pra mim ainda é prioridade. De vez em quando também aparece um negocinho pra eu gravar, mas se eu colocar muita coisa na minha vida eu fico doido... é muita coisa
Eu ouvi falar que você gosta de jazz. É verdade? Você escuta jazz?
Eu gosto mais de fusion. Escutava também musica clássica, mas ultimamente ando ouvindo mais rock mesmo
E o mercado de rock hoje no Brasil, como está?
Tem muito show gringo, mas pra ver um show é muito caro. Quanto às bandas nacionais, tem muita banda. Tá saturadasso. Alguma banda nova boa, eu não sei. Eu gosto mais de bandas antigas. Meu ipod tem de tudo. Também escuto vinil, coisa velha mesmo
Quais são os três discos essenciais para você?
O disco Destroyer do Kiss, o Jaco Pastorius, e o novo do Sepultura, que é um trabalho muito forte e se o pessoal assimilar direito o que ouvir, certamente vão notar uma mudança. Este ano a gente está querendo fazer o que fazíamos antigamente. Com mais gás. Tocar
muito. E o público vai sentir isso!
Equipamentos:
1. *baixos FENDER 5 cordas custom Shop (USA) ;
*cordas Fender (050-130 // 045-125)
*cordas DR (050-130 // 045-125)
*Cabos Fender
*Cabos Tecniforte
*Cabeças Meteoro 1600 + caixas Meteoro (8x10)
*Cabeças SWR + caixas Megoliath (8x10)
*Caixas Ampeg (8x10) Custom
*Meteoro MPX bass drive & direct
*SansAmp RB-1 pre amps
*Cry Baby Bass whah
*DOD efeitos
3. Fender instrumentos, cordas, cabos, palhetas & acessórios; DR strings; Tecniforte cabos; Meteoro amplificadores; Meteoro MPX Bass Drive; SWR amplifiers
Karla Maragno e Paulo Xisto - depois da entrevista.. hora de mostrar as coisas que fizeram a história da banda...
Curiosidades:
Em 2008 Paulo Xisto recebeu uma honraria criada por Juscelino Kubitschek: a medalha de comendador do estado de Minas Gerais. O fato deixou o baixista super honrado, pois os indicados são escolhidos a dedo por duas comissões. A cerimônia aconteceu em Ouro Preto dia 21 de abril, com a presença de sua família, que é da cidade, e deixou o herói dos graves emocionado.
O Sepultura fez um arranjo para a peça clássica “9ª Sinfonia de Beethoven” gravada junto com uma orquestra de câmera. Em Laranja Mecânica, esta era a peça favorita de Alex. Ao final do filme, escuta-se o último movimento da 9ª Sinfonia ao fundo.
saudações baixisticas... sempre causando...
Pena que essa entrevista é um tanto antiga...
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