sexta-feira, 22 de maio de 2009

HISTÓRIA DO JAZZ - parte II













♫ Cool Jazz

No fim dos anos 40 surge o cool jazz que, com a harmonia menos variada e improvisos com menos notas, representou uma reação suave ao Bebop, caracterizando um estilo mais distendido e relaxado de tocar jazz. Um ritmo mais introspectivo e contido,menos complexo que o bop, com as sonoridades dos instrumentos atenuadas. Apesar do nome, não se deve associar o cool jazz com uma espécie de jazz “frio”, sem swing ou sem alma.


Encontramos gravações cool, ritmos ágeis, solos intensos e sincopados.

Entre os expoentes do cool jazz encontra-se Miles Davis que marcou a época com o disco “birth of the Cool” e ainda impulsionou outras revoluções estéticas nas décadas que se seguiriam.Com vasta cultura musical, Ron Carter passou porvários estilos do jazz, incluindo música brasileira em suas influencias. O som de seu baixo é encorpado, usando muito o “glissandro” para chegar nas notas, que são mais conectadas e não têm muitos ataques.Também compôs diversas trilhas sonoras para cinema.Tornou-se famoso ao integrar o quinteto de Miles Davis no início dos anos 60 tocandotambém com Herbie Hancock, Wayne Shorter e Tony Williams.Entre os expoentes do cool jazz encontram-se Gerry Mulligan(sax barítono),com seu famoso quarteto, Stan Getz (sax tenor), Chet Baker(trompetista mitológico do jazz) e Lennie Tristano(piano).

♫ Hard bop
Retorno às linhas mais frenéticas, mas não só com improvisos sobre harmoniade blues, mas diversas musicas tocadas rápidas com fraseado em cima do bebop.O contrabaixo e bateria ganham maior liberdade e atingem a emancipação dentro do conjunto de jazz. No Hard Bop os instrumentos da seção rítmica freqüentemente assumem o primeiro
plano.

♫ Modal Jazz














O jazz modal começa também a ser explorado por e Miles Davis, usando combinações harmônicas mais livres do que a harmonia tonal tradicional, influência de Bill Evans, e improvisando mais sobre notas longas.Era algo mais sofisticado, com estruturas elaboradas.O marco desta era foi o disco conceitual, Kind of Blue considerado um dos mais cult do jazz. Com Miles, gravaram os saxofonistas John Coltrane, e Julian Adderley e opianista Bill Evans,que de uma forma bem própria colocava melodia entre os acordes.O contrabaixista Paul Chambers foi o grande nome desta fase nos anos 50 e gravou quase todos os discos do Miles junto com o baterista Philly Jo Jones.O baixista Steve Swallow nasceu em 1940 e tocou baixo acústico em diversas formações ao lado de Benny Goodman, Paul Bley, João Gilberto, Stan Getz, MichaelBrecker, George Benson, Herbie Hancock e John Scofield. Em1970 adotou o baixo elétrico usando palheta para tocar. Foi um dos primeiros baixistas a adotara corda C aguda no baixo de 5 cordas.


♫ Free Jazz 1960

Com fortes influencias da música vinda do oriente médio trazida pelos muçulmanos, o free jazz explode nos anos 60.Experimental e provocativo, aparece como uma espécie de rejeição à tradição jazzística. Caracterizado por quebrar regras, uso de compassos incomuns, harmonias com resoluções ilógicas e estruturas irregulares.Com o free, o jazz incorporou conquistas estéticas da arte de vanguarda dos anos 60, como a música atonal e aleatória e o happening. O free jazz nasceu “oficialmente”com o famoso disco de 1960(intitulado precisamente Free Jazz), onde se ouve o quarteto duplo liderado por Ornette Coleman (sax alto) e Eric Dolphy (clarinete-baixo), no qual participarammúsicos importantes: Charlie Haden e Scott LaFaro aos contrabaixos, Don Cherry eFreddie Hubbard aos trompetes, Ed Blackwell e Billy Higgins nas baterias.A improvisação coletiva onde todos os músicos improvisam simultaneamente eindependentemente era também comum.
O free jazz foi elogiado por alguns dos músico
s proeminentes do tempo, mas não facilmente aceito pelo público.O saxofonista Ornette Coleman, considerado inventor do free jazz define da seguinteforma a nova atitude dos “jazzmen”:

“Não existe uma maneira correta de tocar jazz relacionando uma nota com um acordetradicional, limita-se à escolha da nota seguinte”.


♫ Fusion

Controverso entre os apreciadores de jazz,mas com grande sucesso comercial, surge na virada dos anos 60 para os 70, o jazz-rock,conhecido como fusion, que combina progressões dojazz com os ritmos do rock, com baixo elétrico, guitarra elétrica e muita percussão.Esta revolução é concretizada pelo álbum duplo“Bitches Brew” de Miles Davis de 1969.Este contou com um grupo numeroso de músicosque viriam a se tornar quase todos grandes nomesdo jazz-rock e líderes dos principais conjuntos desse estilo.


Entre eles o pianista Chick Corea, o tecladista Joe Zawinul, que iria fundar o Weather Report,e diversos músicos do primeiro time, como o baixista inglês Dave Holland e o baterista Jack DeJohnette, entre outros. Além de Dave, os baixistas europeus que mais se destacaram no jazz foram odinamarquês Niels Henning Orsted Pedersen (NHOP),um dos mais brilhantes improvisadores no acústico, e Miroslav Vitous, nascido na antiga Checoslováquia e primeiro integrante do Weather Report.Certos conjuntos eram verdadeiras máquinas instrumentais, em termos de energia,entrosamento e sofisticação.Porém essa qualidade técnica não supre as características jazzísticas que os puristasdo jazz sentem faltar no fusion dos últimos anos.


A influência do baixo elétrico no jazz veio principalmente com Jaco Pastorius e a maneira como ele apresenta seu disco solo em 1976. Sendo o band leader, baixista, compositor e arranjador, revolucionou com sua forma de tocar, frasear, sua concepção,arranjos e as misturas musicais.
Abre o disco tocando “Dona Lee” de Charlie Parker, um “Bebop” executado apenas com baixo e percussão. Isso foi sem dúvidas uma revolução pra todo músico, não só para o baixo elétrico.


Outros grandes nomes do contrabaixo elétrico no jazz são Stanley Clark, John Patitucci, Jeff Berlin, Victor Bailey, Jeff Andrews, Marcus Miller, Gary Willis, Alain Caron e Richard Bona, entre vários outros.
A guitarra elétrica se transformou numa referência , ao se tornar um instrumento de solo, executando um som bem alto e brilhante; destaque para o guitarrista Larry Coryell,em 1966, com seu grupo Free Spirits,trouxe um timbre orientado para o rock, fazendo um ataque muito forte, ao invés dostimbres suaves que os guitarristas de jazz empregavam até então; e para o grupo dejazz de Gary Burton em 1967.


E os bateristas mudaram seus estilos, deixando de lado os ritmos de bop para se orientarao rock, dando ênfase à cada batida, com força e pulsação.


♫ Jazz no Brasil


O jazz nos moldes americanos nos anos 20, era representado no Brasil por Big Bands exatamente com a mesma formação das norte-americanas, ou seja, naipes de saxofones, trompetes e trombones, com uma seção rítmicade piano, bateria, contrabaixo e guitarra, além do “crooner”. Este movimento seprolongou até os anos 40, era do swing, tocando em bailes e gravando discos. Mas foi depois que as Jam Sessions (reunião informal de músicos para improvisar)começaram a acontecer, onde músicos profissionais, amadores e fans do jazz participavam e divulgavam o ritmo no Brasil, que esta influencia junto com o samba criou a bossa nova.


A partir daí vários músicos brasileiros levaram o ritmo com mais balanço para os EUA, já com um som bem característico e maduro, influenciando o jazz americano.
Passa a fazer parte do livro “Real Book”, qu
e é a “bíblia” do jazz.
A outra forma de se pensar no jazz no Brasil é considerar o estilo como música de improvisação e nas fusões que aconteciam no mesmo momento em que o jazz estava nascendo nos EUA.


Da força da cultura musical negra misturada com influências européias no Brasil,nasceu o maxixe, choro, samba e toda a variedade da música afro-brasileira. Assim, enquanto o jazz tradicional se desenvolvia nos EUA na década de 20, aqui acontecia o choro, curiosamente chamado pelos japoneses ainda hoje de “Brazilian Ragtime”.
Pixinguinha representa para o Brasil o mesmo que Louis Armstrong representa para os EUA. Alguns músicos brasileiros com fortes influênci
as do jazz:Toninho Horta, Helio Delmiro, Hermeto Pascoal, Marcio Montarroyos, EgbertoGismonti, Andre Dekesh, Mauro Senise, Pascoal Meirelles, Paulinho Braga e Oscar Castro Neves, entre vários outros.

♫ Baixistas Brasileiros


Paulo Russo
é um baixista carioca que participou de diversas formações nacionais e internacionais de jazz e tocou com o grande saxofonista V
ictor Assis Brasil– pioneiro do jazz no país e considerado um dos maiores instrumentistas brasileiros. Victor era um dos participantes das lendárias jam sessions em Copacabana, que testemunharam o nascimento de inúmeros astros da Bossa Nova.

Nico Assumpção,
que tinha muita influencia de jazz e a linguagem cromatismo jazzística, tocou com grandes nomes do jazz internacional. Em 1981, lançou o primeiro disco brasileiro de baixo solo, ajudando a tirar o contrabaixo de lá do fundo do palco. Em 1985, junto com Carlos “Bala” na bateria, Luiz Avelar nos teclados, Ricardo Silveira na guitarra e Steve Slagle no sax, marcam a história da música instrumental brasileira com o disco “HighLife”.




Zeca Assumpção em 1982 foi eleito melhor contra-baixista de jazz do país, pela “SociedadeBrasileira de Jazz”, tocou com Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Nelson Ayres, Wagner Tiso e vários outros.

O baixista Nilson Matta, radicado há muitos anos nos EUA, é um dos fundadores do “Cama de Gato”, um dos grupos responsáveis pela propagação da música instrumentalbrasileira.


Itiberê Zwarg com Hermeto Pascoal, Luis Chaves e Itamar Collaço com o trabalho no Zimbo Trio, Arismar Espírito Santo, Arthur Maia, Celso Pixinga, projetando o baixo em disco solo no Brasil, e após eles uma geração inteira como André Neiva, Ney Conceição, Thiago Espírito Santo, Alberto Continentino, Ebinho Cardoso, André Vasconcellos, Marcelo Maia, e muitos outros que todos nós conhecemos que hoje fazem música instrumental no Brasil, misturam bem o jazz na música brasileira. Para entender melhor tudo isso, só ler não basta, tem que ouvir cada um dos nomesdo jazz, sua sonoridade, criação, interpretação e cada época e movimento diferentedentro do estilo. Não importa se é tradicional, free, rápido, lento, o interessante é tentaridentificar tendências, influencias, escolher solistas prediletos e se divertir.



Agradeço a colaboração para esta matéria do baixita Hamilton Pinheiro, do pianista Renato Vasconcellos (licenciado em música pela Universidade deBrasília e mestrado em Jazz Performance na Universidade de Louisville - EUA)e o baixista Oswaldo Amorim (licenciado em música pela Universidade de Brasília,com especialização na Bass Collective e mestrado em Jazz Performance na Manhattam Schoolof Music).


Saudações baixisticas... sempre causando... Karla Maragno




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