sábado, 4 de julho de 2009

Chico Buarque na Flip

foto Fabio Cordeiro

Chico Buarque sempre foi muito importante pra mim... ele é um divisor de águas no meu mergulho ao mundo da música brasileira... eu cresci ouvindo rock e mais rock... sempre gostei muito de bandas inglesas... mas um dia, meu pai
, que sempre foi um cara brasileirissimo, apesar de italianão... sempre deu muito valor à cultura, esporte, enfim... ao brasileirismo total... e também já devia estar cheio daquele som alto que eu ouvia sem parar... na cabeça dele ... chegou um dia do trabalho com um disco na mão e me deu de presente com a frase: "tá na hora de você aprender a ouvir música de verdade"...



quando abri... um disco do Chico Buarque... "Meus Caros amigos" ... paixão à primeira ouvida... escuto
este disco até hoje... enfim, a partir daquele momento, comecei a ouvir música brasileira e não parei mais...

mas ontem (sexta 3) Chico Buarque participava de um debate com Milton Hatoum na Feira de literatura em Paraty... e durante este debate... ele disse duas coisas que me chamaram a atenção e me fizeram pensar e pensar e pensar... e cheguei as minhas conclusões depois de tanto pensar, porém, sem ficar aqui debatendo meus pensamentos, resumirei da seguinte forma: uma das coisas que ele fa
lou eu detestei e outra eu amei...

Ele disse: "Eu escrevo muito devagar. Escrever é uma chatice. Gosto mais de ler do que de escrever"... meeeoodeoosss... ele estava numa feira de literatura... é autor de quatro livros... que comentário infeliz... se acha que escrever é uma chatice, não escreva...
eu particularmente tenho muito prazer em escrever... desde muito criança... assim que aprendi a escrever, já escrevia muito... e sempre por prazer mesmo... o dia que escrever pra mim for uma chatice, eu simplesmen
te paro e pronto... e olha que nem sou Chico Buarque... se eu fosse ele então... com sua carreira como cantor, compositor, seu nome, sua obra musical, respeito, jamais faria algo profissional que julgasse uma chatice... ele não precisa disso...

aahh... mas eu sabia que o Chico não iria me deixar na mão... mais adiante ele defendeu maravilhosamente o mundo musical, diante da concepção de que a música popular é uma espécie de prima pobre dos livros... ele disse:
"Eu não concordo. Não sei se Guimarães Rosa é m
ais importante do que João Gilberto. Não sei." A plateia não reagiu ao comentário literatura x música popular e também não manifestou a histeria normalmente vista em seus shows...

pra deixar claro... eu amo ler, amo a literatura brasileira, mas concordando 100% com o Chico... e continuando a lista de compositores importantes que ele começou com Jõao Gilberto... tem o próprio Chico Buarque, Noel Rosa, Cartola, Gonzaguinha, Caetano Veloso, Vinícius de Moraes, Milton Nascimento, enfim... uma lista imensa de poetas e escritores que usaram suas músicas pra se comunicar de forma ímpar com as pessoas... isso é grande importância, riqueza, r
elevância pra cultura popular... e acessível!!!

E pra terminar... uma letra genial de Chico Buarque... que está em seu disco
CHICO BUARQUE - 1984
Vai Passar
Chico Buarque e Francis Hime

Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempo página infeliz da nossa história,
passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia a nossa pátria mãe tão distraída
sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos erravam cegos pelo continente,
levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,
o carnaval, o carnaval
Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
e os pigmeus do boulevard
Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade até o dia clarear
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai que vida boa, ô lerê,
ai que vida boa, ô lará
O estandarte do sanatório geral... vai passar


ahhh... não poderia deixar de registrar... quem gravou o baixo desta música foi Luizão Maia... deu vontade de ouvir? Eu já estou ouvindo...


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