Quem viu, viu, quem não viu será que ainda verá?
Escrito por Karla Maragno
Qua, 24 de Novembro de 2010 20:59
Ainda mais esse texto vindo de uma super defensora da música brazuca, seus músicos maravilhosos e seus ritmos esplendorosos. Mas a verdade é que não podemos deixar passar batida a vinda de alguém que fez história na música mundial, ainda mais sendo ele o baixista dos Beatles.
Se hoje o virtuosismo é para muitos o parâmetro para definir quem "toca muito" e quem não "toca nada", o que precisamos lembrar é que Sir Paul McCartney, em uma época que o baixo era só condução, criou linhas que faziam o instrumento ir além dessa função. Isso inspirou e ainda inspira várias gerações de baixistas, incluindo eu mesma! Assim, num fim de tarde mega chuvoso cheguei ao Morumbi para o último show de três no Brasil da 'Up and Coming Tour', na segunda-feira (22), em São Paulo, fazendo parte da soma de aproximadamente 178 mil pessoas que no país foram conferir esse show: a materialização, de alguém que fez e faz parte da trilha sonora de muitas vidas.
A ansiedade era geral e a grandeza do ídolo começa a ser medida pela fila interminável debaixo de chuva. Aliás, abro um parêntese aqui para o detalhe dos vendedores de capa de chuva – certamente os mais gratos a São Pedro, pois não tinha como os "devotos" de São Paul escapar de comprá-las. Outro parêntese - será que quem ensinou português para o Paul lhe disse que "Sauunnn Pouulu"(São Paulo no sotaque McCartiano) quer dizer St. Paul? Fica a minha dúvida eterna e irrelevante. O importante é que eu fui lá representando a BB e tive o privilégio de sentir toda aquela energia de um ídolo que conseguiu atravessar gerações com a sua música que parece imortal. Não eram raros pais, filhos, netos, juntos assistindo ao show na mesma vibe. É certo que cada um tem suas expectativas quanto ao repertório, porém condensar canções extraordinárias do ex-Beatle em apenas um show é complicado, sempre vai faltar alguma favorita de alguém, mesmo assim, Paul chega bem perto de conseguir alcançar os anseios particulares de cada um.
Ele sabe ser um ídolo, sabe como fazer um show. E que show perfeito! Som perfeito, daqueles que detalhes de cada instrumento são percebidos e sempre, o baixo batendo bem forte no coração. Sir McCartney no palco, honra a história que ele carrega em cada nota, em cada gesto, em cada sorriso, em cada dancinha, em cada fim de canção que ele levantava o instrumento em triunfo, em cada zoada em português do tipo: "como tá a chuva aí?" Paul dá um show de profissionalismo, simpatia, energia e elegância. Valorizou a audiência com textos que fazia questão de dizer em português – coisa muito rara de se ver - um gringo se preocupando em falar nossa língua.
Paul tocou várias canções em seu lendário baixo, algumas no piano e ainda na guitarra. Ele também tocou em um momento de homenagem, "Something'' no Ukulele - instrumento que o ex-Beatles George Harrison lhe deu. Foi de arrepiar.
Outros clássicos também arrepiaram como "Long and Winding Road", "Hey Jude", "Let it Be", "Live and Let Die", "Get Back", "Yesterday", "All My Loving". Na verdade, as quase três horas de show foram um arrepio só. Destaque pra belíssima "Blackbird", que também foi gravada pelo super Jaco Pastorius.
Muito especial também foi um momento "paz e amor" John Lenniano com a música "Give Peace a Chance", e a demonstração de agradecimento ao Brasil: Mr. Paul entrou para um biz com nossa bandeira nas mãos. A chuva que nessas alturas já tinha parado foi substituída por uma chuva de papel verde e amarelo.
Um espetáculo a parte é sua banda: Brain Ray(baixo e guitarra), Rusty Anderson(guitarra), Paul Wickens (teclado), e Abe Laboriel Jr (bateria).
Está respondida assim a pergunta inicial: o que o Paul está fazendo aqui?
Sim, é impossível ignorar um ex Beatle, ainda mais que ninguém sabe se teremos outra oportunidade dessas, pois mesmo com toda sua disposição dentro e fora do palco (andou de bicicleta pela Rua Tabapuã, no Itaim-Bibi, até o Parque do Povo, no sábado em São Paulo), ele tem 68 anos, ou seja, sei lá se ainda vai querer sair pelo mundo em outra turnê! Por isso quem viu, viu...